1º Torneio OM Norte 2023 – 1 Abril – Axis Ponte de Lima

OM Ponte de Lima – ponte com o futuro

De Nativitate

In Dei nomine et Individue Trinitatis. Ego regina domna Tharasia Aldefonsi regis filia in Domino salutem. Placuit mihi ut faciam villam supra nominato loco Ponte, (…) Ego regina facio cautum ad ipsos homines qui ibi habitare voluerint. Et ipsum terminum parte per foz de Torvela et inde per inter villam Sedin et Domenz et inde per petram rodadam et postea ascende ad castro d Oaia et descende in portela de Archa et fer a Miranceli et inde ad Limia. (…) Ego regina Tharasia et filius meus Alfonsus Rex in hac carta manus nostras roboravimus.

Tradução aproximada: Em nome de Deus e da indivisa Trindade. Eu, rainha Dona Teresa, filha do rei Afonso (desejo-vos) saúde no senhor. Aprouve-me fazer vila o supra-nomeado lugar de Ponte.(…) Eu, rainha faço couto aos homens que aí quiserem habitar. O seu termo parte por foz do Trovela e daí por entre a vila Sendin e (a vila) Domez, e daí por Pedra Rodada, e depois sobe ao castro de Gaia (?) e desce à Portela de Arca, e vai a Mirancelhe e daí ao Lima. (…) Eu, rainha Teresa, e meu filho Afonso, rei, assinámos por mão própria esta carta.

Não poderia iniciar de outro modo a crónica do nosso primeiro torneio neste lugar fantástico senão transcrevendo estas palavras de uma carta de D.ª Teresa datada de 4 de Março de 1125, na qual outorgou o foral que transformava em vila o lugar de Ponte.
E nós estivemos aí, nesse lugar fantástico.
Lugar correliano, que testemunhou e viveu os tempos do nascimento da nossa nação.

Sobre o Nascimento

Sem querer, de modo algum, minimizar tamanha façanha dos nossos antepassados lembro-vos também a data em que testemunhámos outro nascimento: o da Ordem de Mérito do Norte.
Ao 1º dia de Abril do ano da graça do senhor 2023.
E apesar da data carregar a significância popular das jocosas mentiras de Abril, não podíamos ter encontrado outro sítio mais simbólico como Ponte de Lima para podermos dar início a esta longa viagem dos nossos irmãos do norte pelas calendas do golfe.

Irredutíveis Lusitanos

É desses irmãos que vos quero falar brevemente aqui. Os nossos Tiago Moura Pinto, Gonçalo Lages e Manuel Moura Pinto tomaram a eito a difícil tarefa de se iniciarem na organização de torneios de golfe estando ainda nos infantes passos das sua habilidades para o desporto. É profundamente louvável o feito!
Acreditem quando vos digo que, com todas as tarefas mundanas com que nos temos que haver no nosso rotineiro dia-a-dia, executar este trabalho não é nada fácil. Bem hajam pela possibilidade que nos deram em testemunhar este nascer de uma competição tão querida por vós!
Não quero deixar de mencionar uma palavra de mérito ao nosso Presidente, Miguel Campos, por ter contribuído inequivocamente para a génese desta prova.
Estou seguro que os livros rezarão para a história o seguinte texto introdutório às aventuras dos nossos golfistas:

ESTAMOS NO ANO DE 2023 DEPOIS DE CRISTO. TODA A LUSITÂNIA ESTÁ OCUPADA PELOS ROMANOS… TODA? NÃO! UMA ALDEIA ENTRE AS TERRAS ENTRE DOURO E MINHO POVOADA POR IRREDUTÍVEIS PAGANICANOS RESISTE AINDA E SEMPRE AO INVASOR…

O resto? O resto somos nós que vamos escrever… e começou já no passado fim-de-semana.

1 de Abril de 2023

Bom. Já que a efeméride será esta, em anos vindouros, vejo-nos obrigados a entrar na brincadeira. E assim sendo…
O que é que a Tanzânia, o Japão, o Nepal, a Rússia, a Armórica e o Rio Lima têm em comum?
A Tanzânia tem o Monte Kilimanjaro.
O Nepal tem o Monte Evereste.
O Japão tem o Monte Fuji.
Os Russos têm a Estepe.
A Armórica tinha os Gauleses que me fizeram desenterrar os Paganicanos, forma romana de chamar aos golfistas dessa altura (sim existem vestígios de que o golfe, numa forma similar, foi praticado pelos romanos).
E o Rio Lima? -> banha as margens da Vila de Ponte Lima -> que tem um campo fantástico -> etc.
O denominador comum destes topónimos é, de facto, o campo fantástico de Ponte de Lima que tem tudo o que todos os lugares anteriores têm!!!!!!
Um – dois. Esquerda – direita. Acima – abaixo. Acima – abaixo. Acima – abaixo. Acima – abaixo. Acima – abaixo. Acima – abaixo. Acima – abaixo…
Vocês perceberam.

Axis – Ponte de Lima

Retomando a seriedade a que o acontecimento nos obriga… falemos de…
O campo.
Um campasso!
Beleza natural para dar e vender!
Contrastes constantes em todo o percurso. Dos montes e vales já falei, mas outros contrastes se manifestaram neste paraíso golfista.
Nos primeiros 9 buracos, que nos lembram uma montanha russa, vimos as vinhas que seguramente servem de fonte de néctar para os famosos vinhos da região, casas senhoriais típicas da região trocavam de lugar com caminhos escondidos entre vidoeiros, eucaliptos, freixos e carvalhos assim como regueiras serpenteantes para manter o foco do jogo sempre em primeiro plano.
Vimos buracos que passavam por cima de estradas e enfrentámos shots que precisavam dos elevadores da Otis para chegarem ao rés-do chão ou de teleféricos da Leitner para subir aos pastos de greens Olímpicos.
Vimos o famoso par 6 que insiste em se disfarçar de par 5 (e bem – haha).
Depois. Chega a trégua do golfista com o que vem depois da estrada. Um campo mais plano albergando buracos traiçoeiros mas justos e que fazem com que os mais nervosos tenham uma chance de não terem que desatar a telefonar ao psicólogo para a próxima marcação da consulta.
O tapete. Fantástico. E os greens? Esses até tinham a borda dos buracos acima do copo da bandeira pintados a branco como nas competições mais sérias. Algo que, na realidade, deveria ser corriqueiro, mas não o é por estas bandas de finisterra. O mato estava mais que adequadamente limpo. Parabéns aos greenkeepers! Parabéns a Ponte de Lima

A Batalha

Em tempos idos de D. Afonso. Apenas 3 anos depois do foral de Ponte de Lima ocorreu a batalha de S. Mamede onde a infeliz mas mal assessorada D. Teresa perdeu o nosso cordão umbilical com o reino de Leão. Ainda bem para Afonso.
Nessa batalha, da qual pouco rezam as crónicas, podemos ter a certeza de um aspecto muito particular. Os soldados pouco se inteiravam do que se passava por todo o campo de S. Mamede.
Já assim não foi com a nossa batalha, a de Axis Ponte de Lima.
Cento e sete foram os bravos que se voluntariaram para Ponte de Lima mas só oitenta e cinco puderam enfrentar as armadilhas idealizadas pelos irmãos Daniel e David Silva, pois o espaço não conseguiria albergar mais jogadores, até porque o campo assim o exigiu. Mas o calor da refrega não passou tão despercebido dos soldados como há 900 anos atrás. Desta feita pudémos usufruir, uma vez mais, do Live Scoring, o que nos manteve informados do que se ia passando em todas as frentes de contacto. Bem, quase todas. Desta feita tivémos uma adesão mais fraca que nas últimas OM nos campos da Aroeira e Lisbon.
Da minha parte, apesar de ter que estar a tirar o telemóvel do bolso para esta tarefa, para a qual anteriormente tirava a carteira com o scorecard e o strokesaver, tenho que convir que esta forma de registo de resultados é mais prática. Não há cá lápis (rombos a maior parte das vezes, convém ter sempre um afia na mala de golfe), scrorecards molhados pela chuva, etc. Está tudo ali na ponta dos dedos.
Imaginem se D. Afonso tivesse telemóvel (que coisa mais parva de se dizer!)
Voltemos ao nosso torneio. A ausência de aderentes ao Live Scoring fez com que não se tenha ficado com uma ideia clara de como os acontecimentos foram ocorrendo durante o jogo, mas a julgar pelas conversas e resultados após o torneio ter fechado, houve drama em doses saudáveis. Tivemos um guerreiro que conseguiu 5 pancadas acima do par 71 do campo. N o t á v é l ! I n c r í v e l !! F a n t á s t i c o !!! Os que lhe vieram atrás tão pouco fizeram má figura. Uma percentagem importante dos sócios andaram ali na janela do seu handicap com os seus resultados.
Apesar das condições temperamentais com que a zona nos brindou.

Um Inédito

Pois é.
170 torneios se fizeram em que nunca houve chuva no dia do torneio. Este Record fica assim registado como nova bitola a abater. Graças à sorte, temos sido sempre agraciados com bom tempo para a prática do nosso engenhoso golfe.
Pois Ponte de Lima também aqui nos brindou com uma primeira vez, com um inédito arranque de torneio debaixo de chuva. Não se tratou de uma bátega, mas mais de uma morrinha que chateia e mói mas não magoa. Daquela que para os mais incautos pode ela ensopar as ceroulas, mas pelo que me pareceu todos vieram bem preparados, alguns até com véu para as suas malas principescas.
Mas a chuva arrepiou caminho ou velejou para outras latitudes porque grande parte do resto do torneio foi já degladiado a seco. O campo não se queixou minimamente e não alagou.

Os Vencedores

Agora a parte que interessa aos que sobreviveram.
Os resultados…
Interessante observar que o top five teve 3 representantes do norte. Mostra, evidentemente, que o conhecimento local e a frequente visita aos campos da OM do Norte traz sempre frutos.
O pódio é exclusivamente nortenho. 3 sócios nossos mostraram como é que se fazem as coisas na sua terra!
Agora sim, o pódio:
Em terceiro lugar com 35 pontos net e 23 pancadas acima do par ficou o José Cabral, de Viseu.
Em segundo lugar o nosso Paulo Domingues, também de Viseu, com 37 pontos net e 14 pancadas acima do par do campo em ex-aequo net com…
O nosso PRIMEIRÍSSIMO classificado Manuel Vieira, de Amarante, que apesar de ter feito os mesmo 37 pontos, com um handicap de jogo com 6 pancadas oferecidas por cortesia pelo campo, foi ele o tal guerreiro de que falei há pouco, que venceu o desafio do campo com 5 pancadas gross. Muitos parabéns Manuel, uma vez mais!

Muita Gente Boa…

… cabe bem apertadinha! Assim foi o repasto dos sobreviventes de Ponte de Lima. A conversa foi viva e a camaradagem bem evidente em todas as mesas. Bem regadas e bem servidas.
Bem nos deram a sopinha para que a malta acalmasse a fome mas a mendinha foi sendo desfiada a um ritmo voraz. É o que faz galgar montes e vales e respirar o ar cheio da montanha.
E se a comida e a bebida foi boa, também a tombola e os prémios o foram.
Em conclusão.
Foi um jogasso, num campasso, com gentassa do mais fino companheirismo que pode haver entre Engenheiros.
Um SUCESSO!

A repetir, se faz favor!

Ahá! Mas eu sei que assim será… até à próxima vez, num jardim de primeirissimo tratamento, com lâminas excelemente tratadas de Bermuda e Penncross Bent.

Querem saber como é? A caminho de Lisboa, eu parei para ver como é. É como se me quisesse esparramar na relva e fazer daquelas lutas que fazíamos, entre irmãos, quando éramos catraios. Sem falar no restaurante com vista para o mar. Onde com o calor que já fazia a meio da tarde do domingo seguinte só apetecia ir dar um mergulho nas ondas. É assim.

Arrivederci a Estela!

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